BONI
Então, vamos lá. Pode começar falando seu nome, sua idade, com o que você trabalha e como você se identifica e fica à vontade para falar um pouco sobre você.
SOLANGE
Sou Solange, sou “artivista”, articuladora cultural há 7 anos e as pessoas me perguntam: o que é artivismo, Solange? É o termo aglutinado da palavra arte + ativismo. Às vezes pode parecer obvio, mas para algumas pessoas é importante. Esse termo não fui eu que inventei, mas é muito apropriado para os meus projetos porque faço deles ferramenta social. E antes de começar a falar sobre os desafios e as vitórias dos projetos, eu gosto de falar que sou filha da baiana da Ilha, da Solange, meu nome vem da referência dela e ela veio na década de 70/80 tentar uma vida melhor aqui no Sudeste como a maioria dos nordestinos. Eu cresci no Morro do Dendê, numa favela próxima chamada Parque Royal, e lá eu conheci a arte, meu primeiro contato foi através de um projeto social no morro, e a partir disso eu tento usar a arte com esse mesmo segmento e agradecimento, se é que é essa a palavra, mas mesma consciência.
Formei e sou produtora da Akasha, criada por travestis do Rio, na sua maioria negras, onde trabalhamos com curadoria de eventos, festivais, etc. Atualmente fazemos assessoria de artistas dissidentes, a grande maioria é travesti também. Atualmente a Sodomita, costumamos trabalhar com ela aqui no Rio quando ela vem; a Azula que é travesti de R&B, jazz e tudo mais, a gente conseguiu colocar essas manas em parceria com alguns festivais como o palco Favela do Rock in Rio, o Festival Pedido de Justiça para Marielle e Anderson, entre outros, tenho trabalhado bastante com a Ventura Profana, entre outras.
Nós pensamos em expandir nosso projeto, pois como temos trabalhado para muitas pessoas e festivais, eu penso agora nesse ano, a médio prazo, lançar o primeiro evento chamado “T de Travesti”. Já temos aqui um “V de Viadão” por que não ter o nosso evento e festival né? Estou na captação de recursos, meu objetivo é esse, colocar esse cenário de travestis que não para de crescer, principalmente em São Paulo que é uma grande referência, Irmãs de Pau, Jup do Bairro, enfim, a gente vem cada vez mais crescendo.
Poder comentar o rolê dessas manas trans e travestis aqui no Rio de Janeiro, o nosso público na questão cultural e de arte enquanto corpos dissidentes, seria muito importante ter o show dessas manas. O festival vai ser a ferramenta dessas manas poderem acessar esses espaços, que aqui está muito limitada ainda, que é Batekoo, Marioa, etc., e a gente só está na recepção, a gente não consegue estar na produção, na direção, na cenografia, então, o “T de Travesti” é pensado para 80% da produção ser completamente travesti. E atualmente ganhei um edital de 10 mil, mas eu preciso somar 60 mil, então a gente está caminhando. Inscrevi no Itaú, então até posso ver aonde esse festival vai sair, aí trazer você e outras manas com a gente, então vai ser uma equipe grande.
Eu quero fomentar a primeira equipe trans e travestis também, não só para ficar nesse festival, mas para todos os festivais, porque não quero que repita o que aconteceu com esse festival que teve agora, o Lollapalooza. Ter uma equipe preparada e com consciência, acho que é o que está precisando no mercado. E é isso, acho que estou aqui para preparar essa equipe, vamos embora, conto com o apoio de todas.
BONI
Muito chique, pode contar comigo, a gente faz acontecer, ótimo, arrasou. E aí se puder me falar, só para ter registrado também, sua idade e como você se identifica.
Travesti é um termo que precisa ir para o mundo. E ele carrega a alma, carrega bens, carrega cor, carrega histórias, com seu recorte racial, tem recorte territorial, travesti é muito mais que gênero.
SOLANGE
Como eu falei, saí do Morro do Dendê, vim pro asfalto, venho sentindo todos esses sabores, que não é só o sabor do asfalto, dos desafios. Moro na Gamboa e atualmente tenho 29 anos, sempre fui travesti, mas venho me apresentar assim há poucos anos devido a todo apagão e silenciamento dos nossos corpos e aos estereótipo, demorei para me apropriar de mim mesma. Foi com a religião que passei a aceitar, sou filha de Oyá, junto com a minha Exu, a minha Pomba Gira do Cabaré, ela falou assim, “mona, não tem mais tempo de ser um viado, você está num corpo de quem você não é, vamo bora, tamo aqui se você tiver medo.” E no meu primeiro dia de transição, eu fui para a rua e apanhei, pegando ônibus, perdi um dente. Eu até mandei mensagem para São Paulo, correndo daqui (do Rio), mas voltei, e hoje eu tenho orgulho de ser travesti.
Travesti é um termo que não tem lá fora, acredito que todos conhecem trans women, mas não as travestis women, se é esse o termo. Travesti é um termo que precisa ir para o mundo. E ele carrega a alma, carrega bens, carrega cor, carrega histórias, com seu recorte racial, tem recorte territorial, travesti é muito mais que gênero.
BONI
Muito bom ouvir que a religião pôde te ajudar nas coisas, é tão comum a gente ouvir a narrativa contrária, de bloqueamento, então é ótimo ouvir isso e saber que você está usando essa força que te deram para dar mais força para todo mundo. É muito boa essa energia. Compartilhar.
SOLANGE
É sobre isso. A gente sabe do estereótipo e o estigma que a gente leva, então parabéns para as manas estão conseguindo estar na luta lá pela gente. Eu tento trazer a arte como essa ferramenta de cunho social, para devolver a nossa alma que foi arrancada. Me identificar enquanto uma travesti, brasileira, latino americana, é muito importante porque carrega um território, para além de gênero, é meu território, é minha alma, é minha mente, e pensar para além do corpo. Eu acho muito importante isso da gente, mana - acho que nesse editorial, metade se identifica enquanto travesti e é bom a gente lançar essa mensagem para o mundo. De quem somos nós.
Se não tivermos o espaço de fala e de poder no mundo, enquanto presidentes, empresários, donas de instituições, nós não vamos conseguir mudar a realidade do mundo, principalmente do Brasil, que é desigual.
BONI
Sim, total. Aí eu vou começar a fazer umas perguntas, fica à vontade. Primeira pergunta, acho que você já deu uma palinha, mas, se você quiser falar mais, o que significa para você ser trans, travesti no contexto brasileiro.
SOLANGE
Vamos falar do Brasil na questão do ativismo. Brasil é o país mais desigual do mundo. Há 3 anos, a gente perdia para o Botswana, país pequeno da África, mas continuamos sendo o país mais desigual do mundo e não vai deixar de ser. Isso se reflete não só pelo machismo e o movimento do feminismo que luta contra ele, não só na questão da pobreza, mas principalmente em nós, travestis que não estamos nos espaços de poder enquanto uma mulher cis branca e quanto uma mulher trans branca ou quanto a qualquer outro tipo de mulheridade. As travestis estão no subsolo da América. Se existem margens, estamos nas margens das margens. Então somos a base, sem a gente nada consegue ser construído. Sem nós, não vamos conseguir construir o IDH da população brasileira e mundial. Se não tivermos o espaço de fala e de poder no mundo, enquanto presidentes, empresários, donas de instituições, nós não vamos conseguir mudar a realidade do mundo, principalmente do Brasil, que é desigual. Então, para podermos melhorar o IDH que é o Índice de Desenvolvimento Humano da população brasileira, precisamos estar no espaço de natalidade.
BONI
PQP! Palavras que eu gostaria de dar RT para todo mundo ouvir.
SOLANGE
É sobre isso, a gente está caminhando né mana.
BONI
Sim, as gatas estão lutando desde sempre e hoje em dia estamos colhendo muita coisa. É ótimo ver. E aí, aquele clássico tema do que significa família e comunidade para você e se isso mudou desde que você conseguiu se conectar consigo mesma e mostrar para o mundo sua travestilidade.
SOLANGE
Muitas de nós temos trauma como família. E infelizmente o primeiro passo, acho que na bandeira geral LGBTQI, era família, montada por tradicionalismo, comercial margarina, sabendo de tudo isso, tínhamos ranço. A partir da cultura Ballroom percebemos que família não precisa ser o DNA, e sim com quem criamos um vínculo de afeto e escolha. Eu acho que família é construção, é escolha, e vai para além do sangue.
Nós sempre estivemos em quarentena, passar na rua sempre foi uma estratégia de maquiagem, de montação, muito além de beleza, é uma tecnologia nossa.
BONI
Sim, e como você se identifica em relação à arte e cultura brasileira?
SOLANGE
Como falei, usamos a arte como ferramenta de transformação social, e, voltando para a história do Brasil, o Brasil não é nosso, nem da galera branca, nem preta, é da galera indígena. Então, chegam há 500 anos, se deparam com o Brasil, roubam a terra deles, somos escravizados pela população euro centrada, e como temos sobrevivido até aqui? Entre quilombos, entre Zumbi, Dandara e Xica Manicongo, que foi uma travesti que esteve nessa caminhada de luta com essa galera, que teve sua história apagada.
Foi através da arte, da nossa tecnologia, da nossa espiritualidade que fez com que nós continuássemos subindo e dando continuidade através das favelas, rodas de samba. Então a arte para mim é muito mais do que fama, beleza, o visual é lindo, isso é ótimo, mas a arte serve como ferramenta de comunicação.
BONI
Para você qual é a maior diferença entre poder se expressar online a na vida real? E se você acha que tem alguma semelhança entre esses dois universos.
SOLANGE
A tecnologia está avançando cada vez mais, e para mim é mais confortável online, porque eu consigo não ir para a rua e pegar transporte público, não ter que passar por determinadas situações transfóbicas, o online me dá a proteção de estar no meu espaço de segurança, eu conseguir controlar meu tempo, controlar o meu corpo, controlar o que eu vou pensar, falar. Ao vivo, no espaço físico eu preciso ter essa transição, essa mobilidade, é perigosa para mim. Mas eu enfrento. Então para mim, o online é mais seguro, com uma objetividade melhor.
BONI
O que você falou me fez pensar na ideia de que às vezes a gente reage à rua, no online a gente pode agir sobre as coisas, na rua é muito reagir às coisas, é outro tipo de espaço.
SOLANGE
Estou aprendendo a lidar com a rua, me dá medo, apesar de que eu sou a rua, nós somos a rua, nós somos Exu, nós somos a encruzilhada. A todo momento a rua coloca nossos corpos e nossas histórias em risco, então temos que enfrentá-la, principalmente de dia. Mas eu prefiro estar segura, então a casa, o online, a pandemia que para uns foi horrível, para mim foi a salvação, porque tudo se adaptou ao online.
Nós sempre estivemos em quarentena, passar na rua sempre foi uma estratégia de maquiagem, de montação, muito além de beleza, é uma tecnologia nossa. A pandemia, enquanto muitos sofreram, foi para mim um momento de reconectar e ganhar tempo para poder hackear.
BONI
Última perguntinha que eu tenho é: o que você gostaria que o povo fora do Brasil soubesse em relação a qualquer coisa que você tiver para falar.
SOLANGE
Do pós-gênero e da travestilidade, da potência que o termo travesti tem e que o mundo precisa reconhecer esse termo e esse gênero.
ENGLISH TRANSLATION FOLLOWS
BONI
Ok, let's go. You can start by saying your name, your age, your work, and how you identify. Feel free to talk a little about yourself.
SOLANGE
I'm Solange. I've been an “artivist” cultural articulator for seven years. People ask me: what is artivism? It is the combined term of the word art + activism. That may seem obvious, but for some people, it's important to understand the roots. I did not invent this term, but it is very appropriate for my projects because I use them as a social tool.
And before talking about the challenges and victories of those projects, I like to say that I am the daughter of Solange from Bahia. My name (Solange) references her, and she came in the ’70s/’80s to try to have a better life here in the Southeast like most Northeasterners. I grew up in Morro do Dendê in a nearby Parque Royal favela. It’s there where I got to know art. My first interaction was through a project in a favela. From then on, I try to use art with that same intention and conscience - if that’s the word - to address social issues.
I am the founder and producer at Akasha, where we curate events, festivals, etc. It’s created by travestis* from Rio, mostly black. We advise dissident artists, the vast majority of who are also travestis. We’re currently working with Sodomita when she comes to Rio and Azula, a travesti R&B and jazz artist. We managed to put these sisters in partnership with some festivals, such as the Favela stage at Rock in Rio and the Festival Request for Justice for Marielle and Anderson, among others. We have been working with Ventura Profana, also.
We’re considering expanding our project because we have been working for many people and festivals. I’m considering launching the first event called “T for Travesti.” We already have a “V for Viadão*” here. Why not have our own event and festival, right? I am in the fundraising stage and aim to present this scene of travestis that keeps growing, especially in São Paulo, which has Irmãs de Pau, Jup do Bairro. In short, we are growing more and more.
Commenting on the scene of these trans and travesti sisters here in Rio de Janeiro, our dissident bodies are public art and culture. It would be very important to have our sisters’ shows. The festival will be a tool for the dolls to be able to access these spaces, which are still very limited. For example, we are only at the reception, Batekoo, Marioa, etc. We cannot do production, creative direction, photography, and videography.
The idea for “T for Travesti” is to have 80% of the production to be completely travesti. And recently I won an art grant of 10,000 reais, but I need 60,000 reais more. I’m partnering with Itaú (a major Bank in Brazil) to see where this festival will go. Then I can bring you and the other sisters with us. It will be a big team.
I want to create the first trans and travesti team as well, not just for this festival but for all festivals. I don't want what happened with this Lollapalooza festival to repeat. Having a prepared and aware team is what the market needs. And that's it. I'm here to prepare this team. Let's go. I count on everyone's support.
*Travesti is a Brazilian term used to define a part of the transfeminine population in Brazil.
*Viadão is a play on words with the Brazilian slang for gay men
Travesti is a term that needs to go out into the world. It carries the soul, color, and stories and has a racial aspect. It has a territorial aspect. Travesti is much more than a gender.
BONI
Very chic. You can count on me. We’ll make it happen! And then if you can tell me your age and how you identify.
SOLANGE
I left Morro do Dendê and immediately hit the pavement. I've been tasting all these different flavors, not just the flavor of the asphalt and the challenges. I live in Gamboa, and I'm currently 29 years old. I've always been a travesti. But I've been presenting myself like this for a few years now because of all the silencing of our bodies and the stereotypes we carry. It took me a while to take ownership of myself.
It was with religion that I started to accept myself. I am the daughter of Oyá, along with my Exu. My Pomba Gira do Cabaré* said, “Mona, you don’t have time to be a faggot anymore. You’re in a body that is not you. Let's go. We're here if you're scared.”
And on my first day of transition, I went out on the street and got beaten while taking the bus, and I lost a tooth. I even asked for help from friends in São Paul. I was running from here (Rio), but I came back, and today I'm proud to be a travesti.
Travesti is a term that doesn't exist out there. I believe everyone knows trans women, but not travesti women. Travesti is a term that needs to go out into the world. It carries the soul, color, and stories and has a racial aspect. It has a territorial aspect. Travesti is much more than a gender.
*Pomba Gira do Cabaré is a Candomblé (African-Brazilian religion) entity connected to Solange.
*In Candomblé and Umbanda, Exú is the orixá that serves as the messenger between humankind and the orixás.
BONI
It's great to hear that religion helped you with things. It's so common for us to hear the opposite narrative. And now you're using that strength they gave you to give more strength to everyone else. This energy is very good to share.
SOLANGE
We know the stereotype and the stigma that we carry. Congratulations to the sisters who are able to fight for us. I try to bring art as this social tool to reclaim our souls that were ripped out. Identifying myself as a travesti, Brazilian, and Latin American is very important because it carries a territory that’s beyond gender. It is my territory, soul, mind, and thinking beyond the body. I think it's very important for us, sis. I think that in this issue, half identify themselves as transvestites, and it's good for us to spread this message of who we are to the world.
If we don't have the space for speech and power in the world - as presidents, entrepreneurs, and CEOs - we won't be able to change the world's reality, especially in Brazil.
BONI
Yes, totally. I'll start asking some questions again. First question, I think you've already touched on it, but if you want to talk more, what does it mean to you to be trans in the Brazilian context?
SOLANGE
Let's talk about the issue of activism in Brazil. Brazil is the most unequal country in the world. Three years ago, we lost to Botswana, a small African country. But we are still one of the most unequal countries in the world, and it will not stop being that way. This is reflected not only through misogyny and the feminist movement or the issue of poverty but mainly in us, travestis. We are not in the same spaces of power as white cis women, white trans women, or any other type of woman.
Travestis are underground in America. If there are margins, we are on the margins of the margins. We are also the base. Without us, nothing can be built. Without us, we would not be able to build the Human Development Index (HDI) of Brazilians and the world population. If we don't have the space for speech and power in the world - as presidents, entrepreneurs, and CEOs - we won't be able to change the world's reality, especially in Brazil. In order to improve the HDI we need to be an option on birth charts.
BONI
Damn! I wish I could retweet these words to everyone.
SOLANGE
Period! We're going forward!
BONI
Yes, the dolls have been fighting forever; nowadays, we are reaping a lot. It's great to see. What do family and community mean to you, and has that changed since you connected with yourself and showed the world who you are?
SOLANGE
Many of us have trauma from family. Unfortunately, the first family was set up by traditionalism and classic propaganda. We despise it knowing all that. Based on Ballroom culture, we understand that family does not have to be the DNA we share but with whom we create a bond of affection and choice. I think family is construction. It's a choice, and it goes beyond blood.
Passing on the streets has always been a makeup strategy. It’s beyond beauty. It's our technology.
BONI
Yeah, and how do you identify with Brazilian art and culture?
SOLANGE
As I said, we use art as a tool for social transformation. Going back in the history of Brazil, it’s not ours, neither the white’s nor the black people’s. It belongs to the indigenous people.
But colonizers arrived 500 years ago in Brazil and stole their land. The Eurocentric population enslaves us. How have we survived until now? It’s because of the quilombos, Zumbi, Dandara, and Xica Manicongo.
Art, technology, and spirituality kept us going and continuing through the favelas and samba circles. Art, for me, is much more than fame or beauty. Looking beautiful is great, but art serves as a communication tool.
*quilombo, also called mocambo, in colonial Brazil, was a community organized by fugitive slaves. Quilombos were located in inaccessible areas and usually consisted of fewer than 100 people who survived by farming and raiding.
*Zumbi, also known as Zumbi dos Palmares, was a Brazilian quilombola leader and one of the pioneers of resistance to the slavery of Africans by the Portuguese in colonial Brazil.
*Dandara was an Afro-Brazilian warrior of the colonial period of Brazil and was part of the Quilombo dos Palmare
*Xica Manicongo was a Black travesti activist who chaired the Rio de Janeiro Travestis and Trans People's Association [Associação de Travestis e Transexuais do Rio de Janeiro—ASTRA-Rio].
BONI
What do you think is the biggest difference between being able to express yourself online and in real life? And if you think there is any similarity between these two universes.
SOLANGE
Technology is advancing increasingly; for me, it is more comfortable online. I manage not to go to the street and take public transport and not have to go through certain transphobic situations. Online gives me the protection of being in my secure space. I can control my time, my body, and what I will think. In real life, in physical spaces, I need to have this transition, this mobility. It's dangerous for me. But I face it. For me, online is safer and has better objectivity.
BONI
What you said made me think of the idea that sometimes we react in real life. Online we act on things. On the street, it's a lot of reacting to things. It's a different kind of space.
SOLANGE
I am learning to deal with the streets. It scares me, even though I am part of the streets. We are the streets; we are Exu; we are the crossroads. The streets all put our bodies and stories at risk, but we have to face it, especially during the day. I prefer to be safe, so the pandemic was salvation because everything was adapted online.
We've always been in quarantine. Passing on the streets has always been a makeup strategy. It’s beyond beauty. It's our technology. The pandemic was a time for me to reconnect with myself and buy time to be able to hack traditional systems.
BONI
My last question is: what would you like people outside of Brazil to know about anything you have to say?
SOLANGE
I want them to know about being travesti. The power that the term travesti has. The world needs to recognize this term and gender.