BONI
Por favor, se puder falar seu nome, idade, como você se identifica e sua ocupação e aproveitar para falar um pouco mais de você.
GALBA
Eu sou a Galba Gogoia, tenho 29 anos, sou roteirista, atriz, diretora de audiovisual. Sou pernambucana, mas moro no Rio de Janeiro há quase 15 anos, então já tenho alma carioca também, tem todas essas vivências aqui.
BONI
O que significa para você ser travesti no contexto brasileiro?
GALBA
Para mim significa uma liberdade total, porque até eu fazer de fato minha transição para o mundo, eu tive muitos momentos de falta de liberdade de ser a pessoa que eu deveria ser e nem sabia que eu era. Foi um processo com tantas amarras e tantas coisas ao longo da minha vida, me moldando numa caixinha, que nem eu sabia que eu não era uma pessoa cis.
Durante todo esse processo, que foram muitos anos até eu entender, significou uma liberdade muito grande que se reflete na forma como eu sou hoje em dia, na alegria de estar nos lugares, então, numa escala individual seria isso. Numa escala Brasil, sabemos que é muito complexo, porque nosso país é muito transfóbico, é intolerante com pessoas como nós, e isso significa estar em atenção sempre, ser uma travesti no Brasil é estar em estado de alerta 24 horas por dia e você não pode nunca relaxar porque a qualquer momento vai aparecer alguma questão.
BONI
Para você, o que significa família e comunidade e se esses conceitos mudaram desde que você começou a se identificar como travesti.
GALBA
Mudaram. Como eu falei, eu vim morar no Rio com 14 anos, eu vim sozinha para estudar. Eu sou do interior de Pernambuco, então é muito longe. Já nessa vinda para o Rio de Janeiro, eu tive um afastamento físico com a minha família de sangue, e ao longo de todos esses anos, fui fortalecendo muito mais a minha família daqui, que são os meus amigos. A maioria também de pessoas que vieram de outros estados, e foi com essas pessoas que tudo foi acontecendo, desde os perrengues até as conquistas, até a minha transição.
Essas pessoas hoje são minha real família, porque foram aquelas pessoas que estiveram comigo e eu estive com elas do início da adolescência até a fase adulta e onde eu encontro de fato conforto, desde falar qualquer besteira a falar coisas íntimas. Hoje em dia, até quando eu estou com a minha família lá de Pernambuco, não é uma relação tão próxima.
Ontem mesmo saí com meus amigos e estávamos brincando porque outro amigo nosso hétero casou, e a gente é tudo gay, sapatão, etc. aí falei “gente, acho que precisamos casar porque LGBT o povo não casa, se junta. Precisamos de uma festinha de casamento para colocarmos um vestido de madrinha, de noiva...”.
Entramos nesse assunto e percebemos que com o passar dos anos todo mundo da nossa família é LGBT, isso fala muito sobre com quem acabamos por ficar junto, que é com quem nos sentimos livres, confortáveis. Até tenho amigos héteros, a cota, tem ali a sua participação, mas eu acho que a gente vai se fortalecendo nessa comunidade que vira família, que é muito nesse lugar de afeto, de afinidade, de se entender, porque não é preciso ficar explicando para o outro as coisas, porque já passamos na pele, por isso nos entendemos mais.
“o que eu amo te acompanhar é que você posta humor para a gente rir, não é o humor para a pessoa cis rir, não é conteúdo ensinando a pessoa cis o beabá, você posta coisas que eu, como travesti, me faz rir porque é sobre a minha vida."
BONI
Como você se vê em relação à cultura e arte no Brasil?
GALBA
Eu trabalho com isso diretamente desde a faculdade. Fiz faculdade de cinema, e já são 13 anos que eu trabalho na área de arte e cultura. Hoje em dia eu acho que consegui um lugar especial dentro da minha área de roteirista, principalmente, um lugar de respeito e de ser convidada, ser uma pessoa bem quista a estar nos trabalhos. Isso para mim é muito legal, é muito caro, foram realmente anos de batalha para hoje eu estar trabalhando com isso, e cada vez mais conquistando coisas.
Obviamente ainda tem questões que eu preciso ter jogo de cintura, dentro de muitos trabalhos. Por mais que eu ache que esteja num lugar muito legal na minha profissão, ainda tem muito de eu ser chamada para fazer coisas só porque tem personagens trans. Eu faço muitos trabalhos legais, já trabalhei para a Amazon, GloboPlay, são experiências ótimas, mas muitas coisas ainda chegam assim “precisamos de uma roteirista trans”, e é uma coisa que eu estou me colocando mesmo para mostrar que posso trabalhar com qualquer outra perspectiva. Eu posso, eu tenho a experiência técnica e eu posso fazer qualquer tipo de roteiro.
Claro que é muito legal quando eu estou lá questionando, criando personagens trans, batendo o pé sobre muitas coisas, mas também é muito legal eu poder trabalhar em uma série que até tem uma personagem trans, mas que nada do que a gente sempre vê seja a questão dela, não precisa ser que ela apanhe na rua, não precisa ser que, ai meu deus, ela vai precisar se prostituir, não precisa ser sobre ela querer muito tomar hormônio. São coisas que fazem parte da nossa vida, mas é só mais uma coisa, como a menstruação faz parte da vida da mulher cis, mas não vemos uma série inteira sobre menstruação.
Eu me vejo nesse lugar, estou feliz, realizada, grata com tudo rolando, mas ainda preciso traçar batalhas. Mas ainda sinto que a arte no Brasil está muito presa nessa visão unilateral de pessoas trans, principalmente no audiovisual.
BONI
Para você qual é a maior diferença entre se expressar online e ao vivo e se existe alguma coisa em comum entre esses dois universos.
GALBA
Acho que são coisas muito diferentes, eu pessoalmente não sou muito adepta ao online. Acho que vivemos um momento muito louco, o celular tem cada vez mais me dado ansiedade, eu tenho desativado notificações, mas, ao mesmo tempo, o online existe como uma necessidade. Principalmente para conseguir trabalhos, número de seguidores, toda essa questão é importante. E por ser importante para o meu trabalho, eu também faço conteúdos para internet, sempre quando dá.
Hoje em dia o que para mim é especial é que eu consigo fazer na internet o que eu não consigo muitas vezes fazer nos meus trabalhos. Existem mil limitações, cada projeto tem uma limitação de público, do canal, várias coisas. E na internet, eu posso fazer o que eu quero. Eu flerto muito com o humor, é a área em que eu mais gosto de trabalhar, então na internet eu foco nisso. Tem uma coisa que é muito legal, eu só posto o que eu gostaria de assistir. Até porque muitas vezes está rolando o maior tema, 10 pessoas já fizeram o mesmo vídeo, já assisti, não vou fazer o mesmo. Então é um exercício criativo para mim.
Um dia eu estava numa festa e veio uma menina falar comigo, que me seguia no Instagram, ela era travesti e disse “o que eu amo te acompanhar é que você posta humor para a gente rir, não é o humor para a pessoa cis rir, não é conteúdo ensinando a pessoa cis o beabá, você posta coisas que eu, como travesti, me faz rir porque é sobre a minha vida." Para mim, isto é muito legal, eu poder saber que no digital, mesmo com todas as maluquices, eu posso fazer isso, falar para as pessoas trans e rir das coisas da minha vida, fazer piadas engraçadas de dentro desse lugar, fazer piadas sobre sexo, colocar o homem cis como foco da minha piada.
Então a comunicação digital para mim agrega, e eu sei que eu falo com pessoas que não estão fisicamente perto. Estão em vários estados do Brasil, mas que estão ali naquela rede comigo. Isto é muito legal. Mas o físico é o físico, eu gosto muito também, de encontrar pessoas, de reunir pessoalmente, de trabalhar pessoalmente, tem outro tempo, outra troca, outra dimensão. Você está ali, sendo tocado, tocando o outro, trocar olhares, tem essas diferenças, mas acho que as duas coisas são importantes.
BONI
Fico pensando na coisa que retroalimenta, não dá para ter online se você não tem um físico, não está na rua.
GALBA
Não dá para ter só online, senão a gente fica doido.
BONI
Concordo. E é ótima essa ideia de poder rir das nossas próprias questões, poder ver as nossas coisas com mais trivialidade, sem essa grande questão de que tem que passar por algum tipo de filtro.
Querem conhecer o Brasil? Assistam filmes pernambucanos, assistam filmes de outros lugares, que vai ter música, vai ter de tudo um pouquinho.
GALBA
Nem tudo é sofrimento, nossa senhora, estou cansada de sofrer.
BONI
Já sabemos o que é sofrimento, vamos pular para a próxima, sabe. E o que você gostaria que as pessoas fora do Brasil soubessem, sobre você ou sobre o Brasil, ou sobre comunidade trans, você escolhe.
GALBA
Eu queria que elas soubessem que o Brasil é um país imenso, gigantesco, multicultural. Se vocês forem ao norte, vocês vão encontrar uma referência musical, estética, de lendas, de pessoas. Se forem ao Nordeste será completamente diferente. Se forem ao centro oeste, idem. E dentro desses lugares, se você pegar a Bahia e Pernambuco, são muitas diferenças. Então, o Brasil não é só o Rio de Janeiro, não é só São Paulo, que eu sei que é a maioria das coisas que chegam para quem não é brasileiro.
Queria que soubesse também que tem um monte de coisas acontecendo aqui e que tem um monte de pessoas trans, por mais que muitas notícias sejam tristes e desanimadoras, tem muita gente aqui fazendo acontecer em todas as áreas que você possa imaginar. Que nós nos articulamos também enquanto comunidade, enquanto grupo de pessoas e que tem muita coisa legal para vocês descobrirem. Eu sou muito militante da música brasileira, acho que é incrível, e o audiovisual também. Querem conhecer o Brasil? Assistam filmes pernambucanos, assistam filmes de outros lugares, que vai ter música, vai ter de tudo um pouquinho. Isso que é legal do nosso país. Não somos só samba e funk, que eu amo, frequento e escuto.
Antes da gente começar eu estava ali no meu samba, que mais tarde vou para uma feijoada de Ogum, mas temos muitas outras coisas, tem forró, tem brega, tem brega funk , tem samba de coco, sertanejo.
BONI
Eu fiquei pensando também no seu contexto de roteirista, o povo acha que o Brasil não tem tanta influência lá fora, mas... tem. Tem muito grupo que pega sample de música daqui, que tem referência cultural daqui, coisas de artes visuais também. Então realmente o Brasil é gigante no seu território e é gigante na sua influência também.
GALBA
Eu fiz há alguns anos, um filme que a Liniker era uma das personagens do filme. E aí ela falou na entrevista que naquele ano fez 3 vezes mais show no exterior do que no Brasil.
BONI
Nossa, é exatamente isso. Tenho uma amiga aqui de São Paulo, que é performer e artista visual, a Aun Helden. Lá fora ela é muito mais reconhecida, teve muito mais oportunidades do que aqui. E ela tem feito muita coisa aqui, independente, mas lá fora ela é paga, sabe essa diferença?
ENGLISH TRANSLATION FOLLOWS
BONI
Please, state your name, age, how you identify, and your occupation, and take the opportunity to tell more about yourself.
GALBA
I'm Galba Gogoia. I'm 29, a screenwriter, actress, and audiovisual director. I'm from Pernambuco, but I've lived in Rio de Janeiro for almost 15 years, so I already have a Carioca soul.
BONI
What does being a travesti* mean to you in the Brazilian context?
*Travesti is a Brazilian term used to define a part of the transfeminine population in Brazil.
GALBA
For me, it means total freedom, because until I transitioned, I had many moments of lack of freedom to be the person I was supposed to be and didn't even know I was. It was a process with so many ties and things throughout my life, molding me into a little box, that even I didn't know I wasn't a cis person.
During this whole process, which took many years for me to understand, it meant great freedom that is reflected in the way I am today, in the joy of being in places, so, on an individual scale, that would be it. On a Brazilian scale, we know that it is very complex because our country is very transphobic, it is intolerant towards people like us, and that means always being attentive, being a travesti in Brazil means being on alert 24 hours a day, and can never relax because any moment some issue may appear.
BONI
What do family and community mean to you, and whether these concepts have changed since you started to identify as a travesti
GALBA
They changed. As I said, I came to live in Rio when I was 14 years old. I came alone to study. I'm from the countryside of Pernambuco, so it's very far. On this trip to Rio de Janeiro, I had a physical distance from my blood family, and throughout all these years, I have strengthened my family here, who are my friends. Most of them came from other states, and everything happened with these people, from the troubles to the achievements to my transition.
These people today are my real family because they were the people who were with me. I was with them from early adolescence to adulthood. I found comfort with them, from saying nonsense to talking about intimate things. Nowadays, even when I'm with my family from Pernambuco, it's not such a close relationship.
Yesterday I went out with my friends, and we were joking because another straight friend of ours got married. We're all gay, dykes, etc., then I said, “Guys, I think we need to get married because LGBT people don't marry, they get together. We need a little wedding party to put on a godmother's dress, a bride's dress...”.
We got into this subject and realized that, over the years, everyone in our family is LGBT. This speaks a lot about who we end up being together with, which is who we feel free and comfortable with. I have token straight friends, too. But I think that we get stronger in this community that becomes family, which is very much in this place of affection, of affinity, of understanding each other because there is no need to keep explaining things because we've been through similar things, that's why we understand each other more.
BONI
How do you see yourself concerning culture and art in Brazil?
GALBA
I've been working with this directly since college. I went to film school, and I've been working in art and culture for 13 years. Nowadays, I think I've achieved a special place within my screenwriting area, mainly, a place of respect and being invited, being a well-liked person at work. This is cool. It's very rich because it really took years of struggle for me to work with this today and achieve more and more things.
There are still issues that I need to work on, within many jobs. As much as I think I'm in a cool place in my profession, there's still a lot of me being asked to do things just because there are trans characters. I do a lot of cool work. I've worked for Amazon, and GloboPlay; those were great experiences, but many requests still come in, like "We need a trans screenwriter." I'm putting myself through it to show that I can work from any perspective. I have the technical experience, and I can do any script.
“what I love about following you is that you post humor for us to laugh, it is not humor for cis people to laugh, it is not content teaching a cis person the basics, you post things that I, as a travesti, can laugh because it is about my life.”
Of course, it's cool when I'm there questioning, creating trans characters, and insisting on new ideas. It's also cool that I can work on a series that even has a trans character, where it doesn't have to be that she is beaten on the street, it doesn't have to be that, oh my god, she's going to need to prostitute herself, it doesn't have to be about her wanting to take hormones. These things are part of our lives, but it's just one more thing like menstruation is part of a cis woman's life, but we don't see a whole series about menstruation.
When I see myself in this place, I'm happy, fulfilled, and grateful for everything, but I still need to fight my battles. And I still feel that art in Brazil is very much trapped in this one-sided view of trans people, especially in the audiovisual world.
BONI
What is the biggest difference between expressing yourself online and in real life, and if there is anything in common between these two universes?
GALBA
I think they are very different things. I am not very into the online world. I think we are living in a very crazy moment. The cellphone has been giving me more and more anxiety, I have turned off notifications, but, at the same time, online is a necessity. This whole issue is important mainly to get jobs and many followers. And because it's important for my work, I also make content for the internet, whenever I can.
Nowadays, what is special for me is that I can do things on the Internet that I often cannot do in my work. There are a thousand limitations. Each project has a limitation with the public, the channel, and several things. And on the Internet, I can do what I want. I flirt a lot with humor. It's the area I like to work with the most, so on the internet, I focus on that. I only post what I'd like to watch. Because of many trending topics going on, ten people have already made the same video. I've watched it. I'm not going to do the same thing. So it's a creative exercise for me.
One day I was at a party, and a girl came to talk to me, who followed me on Instagram, she was a travesti and said: “what I love about following you is that you post humor for us to laugh, it is not humor for cis people to laugh, it is not content teaching a cis person the basics, you post things that I, as a travesti, can laugh because it is about my life.” For me, this is amazing, to be able to know that on digital, even with all the crazy stuff, I can do this, talk to trans people and laugh about things in my life, make funny jokes from within this place, make sex jokes, putting cis man as the focus of my joke.
So digital communication adds value to me, and I talk to people who are not physically close. But the physical is the physical, I also really like meeting people, meeting people in person, working in person, it’s another time flux, another exchange, another dimension. You are there, being touched, touching the other, exchanging glances, there are these differences, but I think both things are important.
BONI
I keep thinking about the thing that feeds back. You can't have it online if you don't have a physical reality if you're not out on the street.
GALBA
There’s no way only to have the online; we would go crazy.
BONI
I agree. And this idea of being able to laugh at our issues is very good, to see our things more trivially, without this big issue that has to go through some filter.
Do you want to know Brazil? Watch films from Pernambuco, watch films from other places, there will be music, there will be a little bit of everything.
GALBA
Not everything is suffering. My god, I'm tired of suffering.
BONI
We already know what suffering is, let's skip to the next part, you know. And what would you like people outside Brazil to know about you or Brazil or about the trans community?
GALBA
I wanted them to know that Brazil is a huge, multicultural country. Going to the north will find some types of musical references, aesthetics, folklore, and people. If they are in the Northeast, it will be completely different. If they're in the Midwest, ditto. And there are many differences between these places like, Bahia and Pernambuco. So, Brazil is not just Rio de Janeiro, it's not just São Paulo, which I know is the most common thing that comes to non-Brazilians.
I also wanted you to know that there are a lot of things happening here and a lot of trans people, as much as a lot of the news is sad and disheartening, there are a lot of people here making it happen in every area you can imagine. We also articulate as a community that there are lots of cool things for you to discover. I'm very supportive of Brazilian music and audiovisual arts. I think it's incredible. Do you want to know Brazil? Watch films from Pernambuco, watch films from other places, there will be music, there will be a little bit of everything. That's what's cool about our country. We are not just samba and funk, which I love, attend and listen to.
Before we started, I was vibing to my samba, cause later I'll go to an Ogun’s feijoada*, but we have many other styles of music, there's forró, there's brega, there's brega funk, there's samba de coco, sertanejo.
*Feijoada is a typical Brazilian dish made of black beans and all types of pork meat, very traditional and very tasty.
BONI
I was also thinking about your context as a screenwriter. People think Brazil doesn't have that much influence abroad, but...it does. There are a lot of groups that take samples of music from here, which have cultural references from here, and visual arts things too. So Brazil is a giant in its territory, and it is also a giant in its influence.
GALBA
A few years ago, I did a film in which Liniker was one of the characters in the film. And She then said in the interview that she did three times more shows abroad than in Brazil that year.
BONI
Wow, that's exactly it. I have a friend here in São Paulo, who is a performer and visual artist, Aun Helden. Overseas she is much more recognized. She had many more opportunities than here. And she has done a lot here, independently, but abroad she is paid, did you know?